sexta-feira, 31 de julho de 2009
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Alice e o telefone que não toca
"E que telefone que não toca nunca?!"
Troca de assunto pra não dar nó na garganta, balança a cabeça pra refrescar pensamento. Acende um cigarro. Pede outra cerveja.
"Chorei tanto, mas tanto..."
Foda. Pho-da.
Coração doloridinho... "Somos sozinhos nesta multidão..." - escutava. Escutava em silêncio com seu cigarro pregueado nas mãos.
E os carrapatos? "Foi um final de semana maravlhoso! E ontem... Ontem...”
Lágrimas. Olhos cheios de amor, saudade, paixão.
"Musiquinha bacana, não?" e batucava os dedos na mesa. O que fazer, se não. com as mãos?
Outro cigarro.
E ela que sempre teve o costume de dizer que fugia do amor. Do amor específico, o grande, aquele que tanto pode fazer-se pular nas cândidas e brandas nuvens de bumbum como fazer doer batimento n’alma. E dor na alma é muito forte. É um amor MUITO. De dor e de encantamento. Foge da dor, mas dá de cara com o encanto. Este, talvez, o motivo do soluço forte de agora: o amor de que foge sempre. Foge tanto que sente antes a dor com muito medo do encanto doer depois. Dói antes de deixar doer, o amor.
E o amor... É como esse telefone estúpido! Esse telefone que não toca NUNCA, agora.
E aí, fazer o quê, quando essa dor doida dói tantão assim? Chora. Pranto, lamento, amiga, colo, cigarro, batuque na mesa, outra cerveja, trocar de assunto pra não deixar o nó girar dentro da garganta. Porque ligar e desligar o telefone o tempo todo e não ter nenhuma surpresa... Ah, isso é um desbunde!
"O telefone não toca mesmo, né?"
Ele não tocou.
E, “ai!”
É assim mesmo. Porque de todas, a dor na alma é a mais violenta. Faz congado de fincadas dentro do corpo inteiro. “Congado...” – matuta in memory – mesmo sem saber se seria morte, dava adeus ao pulso forte como forte também seu choro descontrolado de agora.
E chorar também é dor. Dor até boa. É uma banda de funk saindo lá do meio dos tímpanos, deixando sujeira e a casa vazia. Em noite de festa. Mas fechou a porta e não dançaria ali mais nenhuma flor e ninguém mais tocaria tambor!


quinta-feira, 9 de julho de 2009
Alice e mais um presente
By Daniel – Blog Contestação
Alice incrivelmente tem o dom da palavra. E muito mais que isso, tem o dom de entender a “condição humana”. Sim, isto que já é clichê mas que no dia-a-dia fazemos questão de ignorar.
Alice a duras penas pena o seu catigo – o olhar inquisidor que ela mesma define como “olhar possuído, obsessivo, cuidadoso, forte, pesado, cruel, desprezado e zangado”. É da “condição humana” dar adjetivos. Adjetivar tudo e quanto for real, abstrato, compreensivo e além do alcance das próprias palavras.
Estar hipnotizado por um olhar “inquisidor” é da história de vida de quase todos. Ser dominado por um sentimento tão devastador é de marcar a vida daqueles que amam.
Alice possui um poder impar de me levar longe... Longe de mais para não sentir essa “longevidade toda”. Suas palavras levam-me a cenas que vivi, situações que vivi, coisas que vivi, ou mesmo, situações que jamais queria ter vivido.
Alice me levou ao ano de mil novecentos e lavai poeira e na descrição do olhar que lhe inquieta me fez lembrar de um outro olhar. Conciso, obliquo, devastador, cheio de tara e desarmador... Fez ver-me menino, infantil, bebê, dominado pela mulher, feita, madura com um poder de devastação tão potente quanto “sem querer”.
Foi sem querer que à conheci;
Foi quase sem querer que à beijei...
E foi com muito querer que à tive em uma noite gélida de uma cama de motel! (…).
Paixão tão forte quanto súbita;
Tão dominadora quanto inimaginável...
Despedida cruel feito morte premeditada! (…).
É castigador sentir algo tão forte, e ficar sem o controle de si.
É castagante se vê servil sem nenhuma chance de defesa...
É absurdamente doloroso ter a consciência de estar só, jogado, pedindo socorro, querendo socorro e sem ninguém para ajudar! (…)
Ler o texto Alice foi como ler a minha própria história, sem rimas, sem estrofe, sem concordâncias verbais, pois os sentimentos, por mais adjetiváveis que possam ser, quando são fortes, são marcas feitas a ferro em braza, bastando um simples toque na lembrança para revivê-los novamente...
Texto inspirado no de Alice intitulado “Alice e Seu Castigo”.


terça-feira, 7 de julho de 2009
Alice e seu castigo
O seu olhar me castiga por tudo e sempre.
O seu olhar me culpa. O seu olhar me castiga pelo que não fui.


quinta-feira, 2 de julho de 2009
Alice e um passado
Um passado me bateu na porta esses dias. Bateu forte como forte pulsavam minhas veias e minha vontade de gritar e chorar de alegria e desespero. Bateu BUM. Bateu, entrou, navegou no meu coração, na minha nostalgia, nos meus desejos. Passeou por cada parte do meu antes, por cada parte do meu corpo, me arrepiando todos os poros que queriam ar. Eu quase fiquei sem respirar. Este passado foi um vôo e um tombo. Foi um querer demais da conta e poder muito pouco. E esperar, esperança.
Aí o passado veio todo importante. Me deixou abobada e só com as pontas dos dedos dos pés no chão. Só as pontas, como uma bailarina. Me perguntou se ainda faço pose de bailarina e estripulias que bailarinas fazem. Eu respondi que sim.
O passado me fez pensar em cheiros e pecados. Em abraços apertados e insegurança. Me fez pensar em medo. E, surpreendentemente, em liberdade.
O passado, sem saber, continuou passado, passando. Ainda tá aqui, ali. Bem por perto. O passado me perguntou se poderíamos ser passado no presente de novo, só que diferente. Porque o passado havia mudado. E eu também.
Não fechei a porta. Nem abri. Tá entreaberta, por ora. Mas to de costas pra ele. Ainda olhando pra frente. Nem dói. Mas mexe. Ele mexe comigo.
Durmo as noites no presente e, de tempos em tempos, lembro-me Dele, no passado. E penso Nele, no agora. Quero. Mas não preciso.
Não coloquei no bolso, não guardei numa caixinha. A bem da verdade nem sei se peguei e coloquei em algum lugar. Ele não me incomoda. Mas quero ele, quando lembro.
Aí o passado começou a ser presente sem querer. Parado. No meio do buraco da porta. Pela janela dá pra ver com clareza. Quando fecho os olhos, porém, não consigo vê-lo sem embaçar. Esse passado doido perdeu muitas toneladas de intensidade. Então ele fica assim, peso mais ou menos, uma oportunidade de viver diferente e uma chance de não querer.
Ô Passado! Se tivesse vindo antes, aí sim, me faria dar tripiruetas ao quadrado, incandescentes e transloucada. Seria uma loucura outra vez.
Ainda bem que veio agora. Não caberiam em mim movimentos drásticos de outrora. Não agora.
Seja bem vindo ao meu agora. E eu ao seu. Podemos ir ao cinema, talvez. Semana que vem...
Pode ser.


Janela da alma... E sombra.
