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Alice e sua Sombra

Alice não é Ágata.
Alice não é Renata, Débora, Aline, Ana e muito menos Carolina.
Alice não é bailarina, professora de forró, santa ou indulgente.
Alice é só Alice mesmo. E mais nada.
Por enquanto...
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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Alice e a Caixinha das Coisas Esquecidas

E ela resolveu abrir a caixinha das coisas esquecidas que ficava debaixo da cama. Releu todas as críticas e todas as declarações de amor. Ficou indignada até certo ponto, depois achou hilário e depois parou de ver sentido naquela coisa, naquilo tudo que era bobo e inútil.

Pegou a caixinha e jogou pela janela do quinto andar. Algumas mensagem se desfizera no ar e outras voaram pra outro canto qualquer. Não era mais importante e não doía mais. 

Virou as costas sem dar tchau e foi embora.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Alice Bagunçada

Ele disse que ela era magnética, espevitada, rápida como um cometa, estranha e interessante.

Ela, por sua vez, nos sabia o que fazer com as mãos e muito menos com os olhos, se o encarava ou se baixava a cabeça.

Eles se bagunçavam.

Ela não sabia o que ele queria. Também não sabia o que ela mesmo queria. Talvez até não quisesse nada. Mas estava gostando e achando muito graça daquilo tudo. Afinal, era muito bom ser mimanda...

domingo, 26 de janeiro de 2014

Alice e o Buraco

Ele disse, num tom de desleixo: Há muita interferência externas a nós naquilo que tentamos fazer ‘bem feito’”.

Mas era um vazio profundo que tinha dentro do buraco do corpo dela. Era uma coisa que não tinha mais jeito. Era grande esse buraco, era dolorido, era vermelho.

Ela sentia uma espécie de angustia que alguns diriam: “menina, você tem que cuidar disso”, mas que não passava. Aumentava a cada dia e a cada vez que ela tentava desafiar esse monstro desacordado. Porque era um monstro que arrastava correntes se acordado.

Sentia-se menina indefesa e ele não estava aí para ajuda-la a espantar o bicho papão. O bicho a importunava e ele não a abraçava pra estancar o medo e controlar a dor do barulho das correntes se arrastando.

Esse “monstro buraco vermelho era bravo, falava alto e a fazia chorar. Ela só queria ser mais forte que ele, mas era fraca e boba e temia tanto que não levantava a voz e nem a cabeça.

Quando ele não estava por perto... Ela se bastava quando ele dormia. Era cheia de pompas, cheia dela, cheia de Alice, impetuosa e decidida. Mas ele, o que não lhe dava atenção nem carinho, a fazia se sentir um nadinha, uma coisinha inútil.

Ao mesmo tempo em que ela queria viver sem o buraco, ele tratava de crescer mais e se fazer presente como uma dor aguda no estomago. Ele estava nela, era dela, fazia parte do que ela era, o buraco. Ela queria vomitar o monstro e andar pra frente.

E ele disse: “Há muita interferência externas a nós naquilo que tentamos fazer ‘bem feito’”.

Ela sorriu e deixou cair uma lágrima.


domingo, 24 de março de 2013

Alice na Contramão


E Alice sentia que sua vida andava era na contramão.

Enquanto seus anos viravam e as rugas se aproximavam, ela sentia-se uma menina, jovem e liberta. Enquanto a flacidez ameaçava, havia liberdade nos movimentos. Quanto mais a rigidez muscular lhe parecesse íntima, mais flexível sentia suas articulações do corpo.

Alice estava na contramão da vida. Agora não tinha medo de quebrar coisas no meio, de pular de ponta, de fazer cambalhotas no amor, de dar sentido às piruetas controversas, nem dos embaraços de ser livre. Não tinha medo. Tinha é vontade.

E perambulava pelos trilhos da sua biografia na ponta dos pés imitando uma bailarina de circo que quase-vai-mas-nunca-cai. Andava na corda bamba da contradição, atravessava a rua sem dar as mãos, cantava alto e desafinada debaixo d’água, vendia ideias aos transeuntes e fotografava cenas tolas e corriqueiras como se fossem o mais belo dos arco-íris com um grande tesouro no final.

Andava ao contrário do que o mundo dizia ser certo. Tudo nela brilhava, pulsava. Era ofegante, não se limitava ao máximo, queria é mais. Não era soldada da vida, nem tinha sua alma subornada pela banalidade do sinal verde aberto que dizia “passe”. Ela saltava. Alice estava na contramão de tudo.

Era uma delícia isso de andar de costas pra frente. Alice adorava a contramão. E lhe parecia o caminho mais certo.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Alice e quando o tempo para em Alice


Aí um dia ela olha no jornal as notícias de ontem. E das notícias de ontem tira conclusões de amanhã que já é hoje. E embola. Bagunça. Escurece.

Escure as vistas, enrola a língua, a garganta aperta, o corpo treme por fora, os olhos umedecem e a voz some, o mundo para e parece que ela nunca mais vai ser feliz de novo.

É quando o tempo para em Alice.

E depois que o tempo para nela, ela desperta e pensa que jogou a vida toda fora enquanto o tempo andava lentamente, antes de parar. E este tempo que já passou foi para o buraco da sua existência. Um buraco lixo de Alice. Anos de tempo no seu buraco. E ainda insiste em pensar em tudo de ruim deste tempo, como se assim, ele deixasse de existir por si só. E consequentemente o buraco desenchesse de tanta ladainha.

É quando o tempo para em Alice.

Aí um dia ela sente-se abandonada, sozinha e largada pela vida. Sente-se injustiçada e impunemente maltratada. Ninguém ligou para saber dela, das suas alegrias e nem das suas dores. Ninguém ligou ou mandou uma mensagem. Aí neste dia, estropiada e amargurada, sente uma enorme vontade de vomitar todo o gosto podre do lixo de tempo em quem lhe causa tanta dor. Mas o que queria mesmo é ter a bendita coragem de dizer, sem pudor, “vem ficar comigo”.

É quando o tempo para em Alice.

Blasfêmia que este tempo de lixo era para Alice! Um grande amor que não termina com o feliz para sempre. Ocupou seus dias enamorados, seus dias de pipoca e filme de domingo e até mesmo seus dias chatos e desentendidos. Alice não queria, mas sentia era raiva. Não era pessoa pequena que se encaixasse na velha fábula de um dia da caça e outro do caçador. Todo dia era dia dela. Ela, que sempre se virou, não era mulherzinha que corre e pede arrego quando transborda. Faz é remenda e conserta. O outro que viesse em rastejos e socorros e pedisse aquele beijo que faltou. E ela não daria.

Alice não era gente que se estratifica em prazer e perdão. Alice não aceitava menções de que habitava o lugar comum de quem sofre de dor de amor. Haveria de ser diferente. Afinal, a escolha era dela. E dele. Eles é quem desistiram deles. Ela disse não. Ele também disse não. Haveriam dito mesmo?

É quando o tempo para em Alice.

Aí um dia ela não ligou mais e ele não deu mais bom dia. Aí ela não sabia mais se ele ia fazer trilha de moto e ele não sabia mais se ela tinha cortado os cabelos. Não sabiam mais chorar juntos. Cansaram da rotina dos almoços em família, de apoiar os sonhos sonhados e nem realizados. Aí um dia eles não queriam mais ficar no para sempre.

O danado do tempo passa com uma rapidez que nem jornal acompanha este furto de sorrisos bestas de gente picada pela paixão. Aí passou a sexta, o sábado e o domingo. Aí passou e foi passando e passando o tal do passado, acaba mal resolvido e empoeirado como uma lembrança torta numa prateleira no fundo das ideias. Fica lá, jogado às traças que tratam de comer tudo que sobrou.

É quando para tudo. Para o tempo e a respiração de Alice. O passado dói, então, como em todo mundo. E dói salgado pelo rosto e apertado no peito. Dor que não tem apoio de aconchego ou abraço apertado com o cheiro daquilo. É quando o tempo para em Alice. E é quando Alice finalmente chora de coração partido.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Alice e a saudade

Ela não sabia do que tinha saudades.

Se dele, se dela quando estava com ele, se dos dois ou se, ainda, da imagem bonita que formavam juntos.

Ela também sentia-se tão livre, que de tamanha liberdade, sentia-se perdida. Era muito espaço, era muito o que fazer. Era pouco direcionamento. Afinal de contas... O que se faz numa sexta-feira à noite? O que faria ela, Alice, na próxima sexta sem ele? O que ela costumava fazer antes do seu coração ser arrematado pelo amor dele? E agora, o que iria fazer?

Mas tinha saudades. Do tempo em que gostava dos afagos, da embriaguez dos cheiros misturados na hora de fazer amor, do olhar que lhe adentrava n'alma, do calor do seu corpo quando lhe falava besteiras ao pé do ouvido. Sentia saudades disso que, ao mesmo tempo em que era distante em unidade de momento, era como se tivesse recebido aquele último beijo ontem. Queria mais.

E sobre a liberdade, que atrevida ela! Ousava lhe dar bochechas rubras quando tinha coragem de viver qualquer coisa nova, mesmo que um simples olhar de banda. Liberdade que lhe enchia os pulmões de ar, que lhe dava sensação de vida nova, de sabores novos, de experimentação. Coisa que ela não tinha coragem de tocar, isso de experimentar.

Ainda apegada ao gosto, não se permitia nada de novo pra saborear por ter a certeza de que não ia gostar.

O que mais lhe tirava o sono é que ela não sabia do que tinha saudades. Se dele, se dela quando estava com ele, se dos dois ou se, ainda, da imagem bonita que formavam juntos, ou se da história que ela imaginava para eles. Como num conto de fadas.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Alice e Asas

Mas ele antes dizia: “vai, voa e pousa. Aqui”.

Hoje ele dizia: “você não voltou e fiquei te esperando” – mesmo sem saber que o voo dela mal tinha começado.

Paciência, foi o que ele não teve.

Ela, por sua vez, meio as flores, se deliciava e sentia outros, e especificamente outro cheiro inebriante, irresistível e embriagado de cravo, canela, barba, pele limpa, crua e nua.

Enquanto ela ia, ele se dificultava e agarrava pedaços de pano de alguém, de outrem que não era quem era de fato seria um possível incomodo pra ele, mas já era e uma provável verdade pra ela.

Ele suplicava pequenas coisas. Ela queria mais e sempre e a cada vez mais. Sempre proporcionalmente ao quanto ele se inclinava por sob a sombra dela.

Ela não era de sombra, muito menos de súplicas, quanto mais de rasantes arrebatamentos. Ela queria sempre mais e quanto mais ele lhe implorava, mais queria voar... 

Ela abandonava, aos poucos, o ninho, o canto. Eram escalas diferentes, macias, às vezes revoltas dentro do peito, outras sem mais pormenores, tamanha insignificância. Mas eram sempre escalas, sempre estacionamentos, sempre verdadeiramente PAUSAS do voo de ida e volta, que não tinha voltado ainda.

E ela, displicente e indisciplinada com qualquer regra de 20 ou 30 cm, desde que régua, desde que obrigatoriedade, ia-se aos ventos, meio que perdida, meio que indo, mas nada de voltando. Ia, sem pretensão de saber para onde voltar, sem desistir, porém sem pensar, que dia ou outro teria que voltar. Ou chegar. Seria relevante. Teria que sacudir-se toda num outro pedaço, ou neste mesmo, mas teria de pousar. Qual canto fosse...

É... ela teria, um dia ou outro, que pousar. Talvez fosse hora, já.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Alice e o beijo dele

O roçar da barba dele... 
O cheiro nu da pele dele encostando nos braços dela, no rosto, nas mãos, no corpo todo em toda parte que se tocava a pele dele e a dela... 

Era muito. O ápice era aquilo, ali, naquela hora. Tudo parou. 

Alice parou e o observou bem. 

Lindo, com sorriso branco, cabelos grisalhos, altura dela ficar na ponta dos pés, abraço do jeito que a encolhia num colo. Ele estava nu, despido e verdadeiro na frente dela. 

Aí Alice queria afundar-se dentro dele como se fosse possível tornar-se um. Queria engolir tudo, ele, o coração disparado dela e a vontade insana de estar ali para o resto da vida. Amando.

Ele teve que ir e ela teve que ir. Depois do encontro atropelado e furtivo, ela ouvia em pensamento: "...O beijo arrepiado no cangote e outro intenso na boca..."

Um querer mais sem fim. Era alguma coisa assim que Alice não conseguia entender, quanto mais explicar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Alice e Fui

E era daquilo que quera viver, daquilo que atormenta o pensamento com detalhes passados, ora amassados e jogados num canto qualquer, ora sobreviventes das tempestades e tormentas que lhe assediaram assim como agora: 
Desamassados e postos na tela do seu computador, aquela coisa antiga que não poderia nem mesm falar em voz alta.

Ah, sim, que era isso que lhe faltava, a ânsia de querer, o estado rubro da pele de poros abertos. E era de se admirar que não soubera antes que era isso de ficar louca, de arremessar esperanças ao vento, que tanto queria. Era para isso que vivia.

Esbanjada de visões coloridas sobre si mesma, Alice acariciava seu ego, sentindo-se o ser mais importante de todos. E, de fato, ela era mesmo. Despregada de qualquer cálice de protocolos sociais, livre de idéias fúteis e de pragmatismos, Alice era uma coisa só. Pulsava com força entre o desejo mais forte e a fantasia mais libertina de todas.

Ah, que delícia flutuar sobre a rotina cega que já sobrevivera. Alice era só razão para poder voar.

E decidiu: Em grande ato final, foi. Explorar uma imensidão daquilo que não conhecia. Abriu a caixa, a portinha da gaiola e foi. Para os desavisados, deixou um recado na porta: FUI!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Alice e a ardência dos olhos

E em um dado momento, pensando de caixola nele, extraviou-se:  ... "Meu coração tá mandando lágrimas ardidas para meus olhos chorarem. PUTZ!"...


Ele estava bem, ora bolas. Mas ela... Queria, sabe-se lá... Queria, talvez, dar um colo ao que lhe tanto deu carinho, ao que tanto lhe ensinou a fazer as contas, a entender a bíblia, a esperar, a crescer... E então, era ele que não se dava mais conta de quem era agora neste espaço de mundo, pois. Confusão embriagada de si mesmo. Dele e dela...


Enquanto isso era choro ardente.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Alice em trabalho de parto

Naquelas páginas corajosas dela:

Alguns veriam aquilo como um milagre desencaixotado da prateleira mais alta;
Grupos afirmariam aquilo ser, ora pois, pura sorte;
Alice, poré, via aquilo como construção, somente que haveria de ser, pois.
"Era uma sombra aflita pelo tempo que se movimentava numa ida e volta sem deixar os segundos passarem, sem deixá-la sair da sombriedade que era sacudir Alice por detrás.
Enquanto sentia nascer, num ventre, coisa nova e involuntária;
Descrentes diziam, "Óh, menina, isso é somente uma ilusão";
Mas era importância de pouco valor, pois, sentia por ali, mexer sem pedir licança em si.
"Era aquele punhado de palavras soltas e frases dignas de um vômito forçado que, ah... que deveria por-se para fora como um adiantamento precoce do parto que viria.
E Alice não parou de correr, como se não houvessem esperanças é para ficar ali, parada;
Alice ia de encontro ao que não era de nome pra se dar;
Era coisa grande que ela deveria buscar como exorcízio do que por tanto tempo gestou e admirou.
"Em estado de sombra penitente, densa e sabedora de muitas coisas, gozava de intermédio entre o desejo e o clímax, entre o que era pretensão para redenção.
Avivou em suspiro naquilo que tanto almejou sentir cheiro em pele de casca que sai como borboleta, nasceu em sorriso, em obra de criação
Era seu primeiro ato. Nascia em um salto, sobressalto, e era agora.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Alice e o resto desimportante

Acabou de lavar a louça do almoço, limpou o chão sujo e ergueu os ombros para em seguida deixá-los cair. Era como se não adiantasse. Nada dava jeito naquilo interminável e intermitente de não parar. Queria tanto pintar as unhas e deitar-se na rede, seu lugar preferido da casa, e ler um pouco, até mesmo tomar um cochilo. Mas o chão estava limpo enquanto o banheiro deveria ter suas toalhas trocadas, o sofá merecia um conserto naquele rasgo que Penélope, inquieta a miar, fizera.

Deitou-se no chão limpo, de braços e pernas abertas e esticadas. Respirou profundamente. Fechou os olhos. Veio Penélope ronronando e lhe enroscou os cabelos. Começou a cantar bem baixinho para a gata: “Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo...” e assim, inerte, ficou por um bom tempo. Largou a vassoura de lado, a preocupação jogou por debaixo do tapete e depois resolveu pegar tudo que tinha debaixo dele e jogar fora no lixo. Enrolou o tapete vermelho persa que tanto achava aconchegante e cômodo e jogou-o para a dispensa.

Liberdade. Era isso que Alice tanto queria. Deu a dançar pela sala vazia depois de empurrar todos os móveis para os cantos. Ligou o som e cantou. Nem mesmo se importava mais com o sofá rasgado. Resolveu que penduraria ali a sua rede xadrez colorida e pronto. O resto ficaria mesmo para depois. Importante, agora, era a leveza do seu vestido branco imitando sua Sombra enquanto dançava descabeladamente. Isso sim, é que era liberdade.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Alice e Fim

Alice era de poucas palavras quando lhe fosse conveniente. Como lhe era conveniente agora.

Virou-se de costas e preferiu não olhar mais nos olhos. Estufou o peito e respirou fundo. Olhou para frente, reto, na reta. E dali saiu sem se manifestar.

Andou firme em direção à próxima esquina. E andou com a firmeza que seus pés lhe permitiam em passos, afinal, eram etapas de uma marcha de alvedrio. Iria. Foi. Foi-se.

Alice não gostava de extremos, do muito baixo, do muito ágil, do muito qualquer coisa que pouco. Mas às vezes era esquerdista. Era pá e era pum. Pronto.

Chegou à esquina e sequer percebia que era observada com espanto por detrás. Só buscava pelos bolsos da calça a chave do carro, a chave da casa. Mas era analisada em constância enquanto, no seu virar de costas sem dizer adeus, enrolava os cabelos num coque falso e desligava o celular depois depositado na bolsa pequena a tira colo.

Alice sentia-se livre a cada distância que se multiplicava com o espaço de tempo. Deixava pra trás qualquer um ou coisa que não faria mais parte dos seus pensamentos simplesmente por não lhe valer à pena. A sobriedade tomava conta do que poderia, por ventura, bambear-lhe as pernas aflitas. E a razão concedia espaço mínimo para o que seu coração pinicava no estômago

Era tão pouco o espaço que nem mesmo carecia mais do dizer “não”. Já era não sem esforços.

Assim que deu-se por fim. Assim não era mais ligada. Assim acabou.

Ele poderia se perguntar “mas como?”. Elaborasse, então, sua própria resposta ou conceito, tanto faz. Era pouco pra ela. E pouco ela não queria mais. Simples.

Para Alice não existiria nenhum tipo de explicação a não ser o seu não querer. A liberdade já estava nas chaves que acabara de achar. Ascendeu um cigarro e deu partida. Foi.

Tinha sido assim mesmo. O fim, sem palavras curtas, no meio da rua, sem mais olhar nos olhos, sem contato de pele, sem cheiro. Era cru. Tinha sido nu. E fim.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Alice e sua des-arrumaçao

Era sempre assim. Começava andando em círculos e por assim ficava horas a fio e, metaforicamente, dias a rodar em volta de si mesma, como se estivesse a procurar qualquer coisa que não sabia o quê.

As voltas deixavam marcas por onde passava, pela sala, quarto, cozinha especialmente. Eram marcas de pé, marcas de meia suja furada, marcas de sapato, marcas de qualquer coisa que anda, nem necessariamente dela ou nela mesma.

Aí dava-se a arrumar tudo. Começava com as gavetas de bagunça, as gavetas de papel, as de documentos, as de óculos de escuros, as de roupa. Começava numa, mediava noutra e terminava em outra ainda sem entender bem o que arrumava. Mas não parava. Passava pano, abria e fechava portas, coçava a cabeça e voltava a andar e dar voltas. Era periódica e constante nestas tarefas. E não terminava nada. Ia dormir, quando ia, quase sempre, exausta em meio a arruaça desordenada e sem nome.

Alice ficava tempos a pensar: o que a fazia procurar tanto alguma coisa qualquer do lado de fora uma vez que o que teria de ser achado haveria de estar dentro dela própria?

Em tempo: Duraria dias, meses, horas ou minutos. Hora ou outra ela ficaria menos aflita, daria uma olhada de canto de olho a sua volta e riria de si mesma. Entenderia, pois.

Alice, depois, fecharia as gavetas assim mesmo como estivessem, limparia as manchas do piso da cozinha, jogaria as meias furadas fora e seguiria em linha reta. Para onde a linha apontasse ela iria. Era caminho, anyway.

A questão é que Alice precisava destas voltas e reviravoltas de tempos em tempos na sua vida. Arrumava por fora a vida angustiada por dentro. Quando dava por si, o que tanto ajeitava já estava em ordem. A ordem quem precisava era ela. Era quando se ria de lado das coisas. 

Mas não importava. Passaria por aquilo tantas vezes fosse preciso. Precisava das curvas para mudar o rumo das retas e, aí sim, continuar andando para frente. 

Enfim. Alice carecia de ser Alice mesmo. 
Anyway.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Alice e o reencontro com Ele

Voltava da padaria como fazia todas as manhãs. O caminho era o mesmo, a sacola de papel com os pães do desjejum em punho e o jornal da banca da esquina. Chegaria em casa e faria o café de cheiro mais forte pra acordar e sentir-se viva porque este seria um dia longo e precisava de vida

Dias meio cinzas, meio com cara de arco-íris escondido... Era dia de nada. Nestes dias que o ar parecia escasso e rarefeito, evitava o cigarro das manhãs, apesar de tê-lo sempre num bolso qualquer.

Passara pela banca, onde pegava com o jornaleiro o seu exemplar já separado. Nada de novo. A não ser por Ele. Ele que interrompeu seu caminho com um assovio, que sabia, só poderia ser Dele. Era um assovio Dele para Alice. Era sempre Dele pra ela e não imaginaria que pudesse chamar outra pessoa da mesma maneira.

Dias assim merecem um pouco mais de nitidez. Bambeou as pernas e deixou cair o jornal que Ele ajudou a pegar, aproveitando pra ler o caderno de Economia, coisa que sabe-se lá o porque, sempre gostou. Dias assim são pedaços de tempo que se perdem no meio do nada. São como partes de outro tempo que ecoam no dia de agora. Pegou o jornal pra si e titubeou quando olhou bem nos olhos Dele. Não disse nada. Não havia o que dizer. Só estranheza.

Ele disse "veja só, que coisa, não?", "eu passei pelo lugar errado, acabei aqui nesta praça e, quando dei por mim, vi você passando, tão clara e serena como sempre, singela e distraída", "e aí, o que faz por aqui?", "ah, você mora ali, eu sei, mas conta mais!", "hoje é meu aniversário, lembra?". Não, não lembrava e nem lembraria. Lembrava de tudo, do cheiro Dele, do jeito de pegar, do beijo, das mãos, do relógio que ele tanto amava, das suas músicas preferidas... Mas aniversário não... "Toma meu cartão e me liga para tomarmos um vinho qualquer dia", "agora tenho que ir".

Pediu um abraço. Que pôxa!, era aniversário e seria um abraço inegável. Abraçou aquele corpo estranho com aquele cheiro de sempre e Ele disse: "errei o caminho só pra te encontrar", "é porque quando a gente caminha certo só aparecem (e voltam) pra gente as coisas boas", "pense nisso", "se eu não entrasse naquela rua errada da avenida eu não teria você de volta pra me dar um abraço".

Do mesmo jeito, com sorriso de sem graçeza e espantada que o encontrou ficou. Ele foi embora para o destino correto e ela: certa de que o destino dava voltas e hoje lhe deu um abraço de cair jornal no chão. Mas ainda não entendia como haveria deste ponto ir e vir, num período sem tempo, de voltar e lhe cortejar, provocar, brincar e ir embora.

Segurando firme os pães e o jornal matinal só respondeu "tchau" depois de vê-lo atravessar a rua, entrar no carro e partir. Ascendeu o cigarro matinal antes mesmo do café de cheiro forte. Aliás, tomaria um chá. Este dia já não era mais dia de café de acordar para a vida. A vida estava ali, a lhe tropeçar e assoviar pela calçada. Não pode esconder um sorriso de canto de boca. Apertou o passo e foi-se embora.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Alice e os tempos

E há, hão, tempos loucos e completamente desconexos, um do outro, outros de si mesmos e de todos os tempos que são, ou não, cronológicos, contados, calculados, mensuráveis, intransponíveis, EM TEMPO

São estes os intragáveis ao paladar seco dos seus quase vinte cinco anos? Ou são apenas inocentes em relação ao gosto de amora que desce lagoa doce licor de rock'n roll  alto-baixo e audível somente a um ou dois espaços de ouvidos? Quais tempos seriam reais, então, se não todos, algum, nenhum?

Do alto dos saltos de suas changlas de palha que se arrastam intermitentemente pela sala de estar e, por ora, do quarto de hóspedes da sua própria residência, todos parecem desvairados e inconseqüentes. Mas todos fazem o mais absoluto sentido do ponto de vista que os escolhe ver. É que tem o tempo da artista de malabares circences, o tempo da que paga as contas do cartão de credito, o tempo da que lê madrugada afora seus Sabino's e o tempo que não tem de quem ser, por não pertencer a ninguém que não a si própria em seus devaneios, EM TEMPO.

E deste tempo faz-se amarga, suave como o vinho da mesa, o aberto, meio tomado, de meia taça vazia e outra metade cheia, faz-se outra, faz-se ego ou alter de si. Faz-se, já disseram, anárquica. Também faz de si a menina pequenina interrompida por outra que lhe clama "oi", "estou aqui", "colo", "me dá?". São vozes diferentes a cada olhar, a cada escolha de tempo, a cada cronologia sem hora pra contar. Faz-se eterna em alma de cria-ação.

E, de tempos A tempos, há tempos se sente, se constrói, se mente, se vale em verdade, se pulsa e entrelaça. Fia-se nos buracos de tecido sem pano de costura que imagina, que borbulha, que tampa, que escurece, clareia cada linha do rio que surta psicótica-mente em mente, psicotrópica nos levados de uma agulha que nem sempre se vai para onde se faz ir.

E, EM TEMPOs, é assim que se transcorre em meio ao todo que nem tempo deve ter, imagina-se. É de réplicas inventadas, ousadas invenções de quanto (s) que vai levando-se ao criar-recriar-se, transformar-se, pensar-se SER. Assim ou assado. Cru. Nu. Sempre novo e de-novo. É assim, é "de assim" que se é história pra não morrer, pra não perder audácia do temor, pra não deixar-se a si perdida que pensa, espera, inova, pára e continua. Pois há de sempre continuar-se, de tempo em tempo, de agulha em costura, de pano em vento, de buraco em vazio. Pura se vai, inventando louca e insanamente. Vai-se.

Sempre.

Sempre vai-se.

São tempos, tempos, Alice. Se é que tempo existe, é que sobrevive-se, Alice.

Alice e a liberdade das mãos

Ela gostava mesmo é da liberdade das mãos. Gostava de pintar flores coloridas no céu transparente e borboletar-se em aventuras que as mãos e os pés precisam de alvedrio. Plantava bananeiras, de pé e de colher em tempo de colheitas. Rodaria, andaria de bicicleta dentro de casa, construiria pontes para onde nem se sabe se de lá se vê.

Era isso que mais pensava quando se atava os pulsos: A liberdade das mãos. Dos pensamentos, dos movimentos, do corpo alvo de festa, da dança apoteótica do livro que escrevia quando podia rodopiar-se a si mesma na leveza das flores que ficavam estáticas no tempo do vento quando lhe era proibido mexer-se.

E, ai, como lhe doía essa prisão de não poder desenhar flores, de não sair do lugar como se algemada como passarinho no poleiro. Queria mesmo era brincar.

E não haveria de ter sossego nesta luta por livres mãos de pintar. E, ai, a verdade nem era de tamanho pesar. Não era sossego que ela queria. E nem sequer havia o desejo de tê-lo. Galgava-se mesmo era da intermitente vida de atar e desatar-se dos nós que, ora, eram apenas pedaços de história, como espinhas na cara ou topadas do dedinho do pé. Não era PAZ... Era somente, então, o tempo brincando como uma criança de não ter o que brincar. E essa tranqüilidade não tinha graça...

Afinal, o que seria de Alice se não o aprendizado de  procurar-se, encontrar-se e esconder-se (de novo!) de toda a vida? Era nada mais que somente seu livre-arbítrio!

Janela da alma... E sombra.

Janela da alma... E sombra.

Quem?

O que disse Richard Pekny