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Alice e sua Sombra

Alice não é Ágata.
Alice não é Renata, Débora, Aline, Ana e muito menos Carolina.
Alice não é bailarina, professora de forró, santa ou indulgente.
Alice é só Alice mesmo. E mais nada.
Por enquanto...

quarta-feira, 20 de março de 2013

Alice e quando o tempo para em Alice


Aí um dia ela olha no jornal as notícias de ontem. E das notícias de ontem tira conclusões de amanhã que já é hoje. E embola. Bagunça. Escurece.

Escure as vistas, enrola a língua, a garganta aperta, o corpo treme por fora, os olhos umedecem e a voz some, o mundo para e parece que ela nunca mais vai ser feliz de novo.

É quando o tempo para em Alice.

E depois que o tempo para nela, ela desperta e pensa que jogou a vida toda fora enquanto o tempo andava lentamente, antes de parar. E este tempo que já passou foi para o buraco da sua existência. Um buraco lixo de Alice. Anos de tempo no seu buraco. E ainda insiste em pensar em tudo de ruim deste tempo, como se assim, ele deixasse de existir por si só. E consequentemente o buraco desenchesse de tanta ladainha.

É quando o tempo para em Alice.

Aí um dia ela sente-se abandonada, sozinha e largada pela vida. Sente-se injustiçada e impunemente maltratada. Ninguém ligou para saber dela, das suas alegrias e nem das suas dores. Ninguém ligou ou mandou uma mensagem. Aí neste dia, estropiada e amargurada, sente uma enorme vontade de vomitar todo o gosto podre do lixo de tempo em quem lhe causa tanta dor. Mas o que queria mesmo é ter a bendita coragem de dizer, sem pudor, “vem ficar comigo”.

É quando o tempo para em Alice.

Blasfêmia que este tempo de lixo era para Alice! Um grande amor que não termina com o feliz para sempre. Ocupou seus dias enamorados, seus dias de pipoca e filme de domingo e até mesmo seus dias chatos e desentendidos. Alice não queria, mas sentia era raiva. Não era pessoa pequena que se encaixasse na velha fábula de um dia da caça e outro do caçador. Todo dia era dia dela. Ela, que sempre se virou, não era mulherzinha que corre e pede arrego quando transborda. Faz é remenda e conserta. O outro que viesse em rastejos e socorros e pedisse aquele beijo que faltou. E ela não daria.

Alice não era gente que se estratifica em prazer e perdão. Alice não aceitava menções de que habitava o lugar comum de quem sofre de dor de amor. Haveria de ser diferente. Afinal, a escolha era dela. E dele. Eles é quem desistiram deles. Ela disse não. Ele também disse não. Haveriam dito mesmo?

É quando o tempo para em Alice.

Aí um dia ela não ligou mais e ele não deu mais bom dia. Aí ela não sabia mais se ele ia fazer trilha de moto e ele não sabia mais se ela tinha cortado os cabelos. Não sabiam mais chorar juntos. Cansaram da rotina dos almoços em família, de apoiar os sonhos sonhados e nem realizados. Aí um dia eles não queriam mais ficar no para sempre.

O danado do tempo passa com uma rapidez que nem jornal acompanha este furto de sorrisos bestas de gente picada pela paixão. Aí passou a sexta, o sábado e o domingo. Aí passou e foi passando e passando o tal do passado, acaba mal resolvido e empoeirado como uma lembrança torta numa prateleira no fundo das ideias. Fica lá, jogado às traças que tratam de comer tudo que sobrou.

É quando para tudo. Para o tempo e a respiração de Alice. O passado dói, então, como em todo mundo. E dói salgado pelo rosto e apertado no peito. Dor que não tem apoio de aconchego ou abraço apertado com o cheiro daquilo. É quando o tempo para em Alice. E é quando Alice finalmente chora de coração partido.

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Janela da alma... E sombra.

Janela da alma... E sombra.

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