E Alice sentia que sua vida andava era na contramão.
Enquanto seus anos viravam e as rugas
se aproximavam, ela sentia-se uma menina, jovem e liberta. Enquanto a flacidez
ameaçava, havia liberdade nos movimentos. Quanto mais a rigidez muscular lhe
parecesse íntima, mais flexível sentia suas articulações do corpo.
Alice estava na contramão da vida. Agora não tinha medo de
quebrar coisas no meio, de pular de ponta, de fazer cambalhotas no amor, de dar
sentido às piruetas controversas, nem dos embaraços de ser livre. Não tinha medo. Tinha
é vontade.
E perambulava pelos trilhos da sua
biografia na ponta dos pés imitando uma bailarina de circo que quase-vai-mas-nunca-cai.
Andava na corda bamba da contradição, atravessava a rua sem dar as mãos,
cantava alto e desafinada debaixo d’água, vendia ideias aos transeuntes e
fotografava cenas tolas e corriqueiras como se fossem o mais belo dos arco-íris
com um grande tesouro no final.
Andava ao contrário do que o mundo dizia ser certo. Tudo nela brilhava, pulsava. Era ofegante, não se limitava ao máximo, queria é mais.
Não era soldada da vida, nem tinha sua alma subornada pela banalidade do sinal
verde aberto que dizia “passe”. Ela saltava. Alice estava na contramão de tudo.
Era
uma delícia isso de andar de costas pra frente. Alice adorava
a contramão. E lhe parecia o caminho
mais certo.
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