Acabou de lavar a louça do almoço, limpou o chão sujo e ergueu os ombros para em seguida deixá-los cair. Era como se não adiantasse. Nada dava jeito naquilo interminável e intermitente de não parar. Queria tanto pintar as unhas e deitar-se na rede, seu lugar preferido da casa, e ler um pouco, até mesmo tomar um cochilo. Mas o chão estava limpo enquanto o banheiro deveria ter suas toalhas trocadas, o sofá merecia um conserto naquele rasgo que Penélope, inquieta a miar, fizera.
Deitou-se no chão limpo, de braços e pernas abertas e esticadas. Respirou profundamente. Fechou os olhos. Veio Penélope ronronando e lhe enroscou os cabelos. Começou a cantar bem baixinho para a gata: “Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo...” e assim, inerte, ficou por um bom tempo. Largou a vassoura de lado, a preocupação jogou por debaixo do tapete e depois resolveu pegar tudo que tinha debaixo dele e jogar fora no lixo. Enrolou o tapete vermelho persa que tanto achava aconchegante e cômodo e jogou-o para a dispensa.
Liberdade. Era isso que Alice tanto queria. Deu a dançar pela sala vazia depois de empurrar todos os móveis para os cantos. Ligou o som e cantou. Nem mesmo se importava mais com o sofá rasgado. Resolveu que penduraria ali a sua rede xadrez colorida e pronto. O resto ficaria mesmo para depois. Importante, agora, era a leveza do seu vestido branco imitando sua Sombra enquanto dançava descabeladamente. Isso sim, é que era liberdade.