E essa euforia doida de viver com urgência cada
intensidade da vida a deixava um pouco tensa.
Andava se jogando em qualquer cavalo branco que
passasse fazendo-se de intrigante. Comprava coisas, corria para andar mais
rápido na BR congestionada e ficar parada era quase a morte. Chegava a doer.
Alice estava muito. Muito em tudo. Muito forte, muito dura, exagerada, metendo o pé nas
pedras do caminho, sem mandar notícias de nada!
Vendia alegria com sorrisos, permutava prazeres e dançava imprimindo sensualidade simplesmente
para o seu bel prazer, cobrava favores ora prometidos.
Se era só um
desespero em viver, uma angústia tapada com acontecimentos extremos, ah,
isso Alice não sabia. Mas ia como um
trem desenfreado, desbravando as
selvas da vida, perdendo medos,
realizando sonhos, sentindo gostos, experimentando coisas e sensações e ela não podia
desacelerar! Ufa! Dizia coisas,
peralta em seus gestos e movimentos tanto desastrados quanto minuciosos. Estava
o tempo todo em êxtase, buscando o máximo, andando rápido pra chegar num lugar
que nunca era o fim. Não tinha medo e adrenalina corria por entre os dedos. Ia.
Alice olhava é
falava daquela lua linda daquele céu imenso, mas tinha parado de olhar pela
janela. Queria todas as estradas, tinha fome de todos os cheiros, mas também
persistia em uma certa nostalgia do que já tinha sido que guardava numa gaveta
qualquer do criado mudo e ia embora. Sempre ia embora.
Embalava grandes planos e não cumpria nenhum, ia
conhecendo gente e não quietava nunca. Comia e nunca saciava a fome que era um
buraco sem fim dentro dela. Por mais insano que parecesse, para ela, naquele
momento, parar era deixar de existir. Doía
forte na alma e no peito. Não podia deixar de correr, e correria até saber para onde ir.