Designer by Luiz Cotta

Alice e sua Sombra

Alice não é Ágata.
Alice não é Renata, Débora, Aline, Ana e muito menos Carolina.
Alice não é bailarina, professora de forró, santa ou indulgente.
Alice é só Alice mesmo. E mais nada.
Por enquanto...

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Alice e o Copo de Veneno

Disseram que ela era neblina na vida dele.

Ela não queria ser neblina na vida de ninguém. Isso de ser neblina, de ser estática, imóvel, constantemente rarefeita e escuridão rasteira do outro. Tinha naquilo um ar de solidão, de profundidade emocional, certo inverno constante.

Havia uma tristeza não contida em quem dizia e uma outra discreta e jogada nela, advinda de quem trazia em si a informação repassada. Era pra ela veneno que vinha bonito em taça de vinho tinto.

- Você é uma neblina na vida dele, vinha escrito.

Taça de cabo longo, boca larga. Bebida cor das vestimentas de Baco. Cheiro doce, pueril até. A vontade era de pegar a taça e gorgolejar, sorver aquilo tudo, inebriar-se daquele líquido tóxico e, enfim, padecer iminente ao findamento.

Disseram que ela era neblina na vida dele.

Não queria aquilo. Falta de luz na vida dele, nevoeiro, presente nos faróis dos carros que madrugam.

O veneno, aquilo que lhe era entregue e que costumava beber, não seria mais de seu pertencimento. Largaria logo aquela taça de cristal, com líquido turvo. Espécie de decadência moral servida em liquidez . Pois o veneno haveria de continuar lá. Ela é que decidirá, ali, que não mais tomaria, não mais se seduziria. Não mais se deixaria levar.

E sobre ser neblina no outro, era outra decisão tomada. A neblina, consternação gelada, gotículas fatídicas daquela alma que se negava a caminhar e dar passos doloridos em direção ao que não se sabe, era decisão do outro. Então e portanto, a neblina era causa e consequência do outro no outro. Não tinha absolutamente nada que ver com ela. Nada. Assim como o veneno.

Chegava a crer que eram quase que a mesma coisa, os dois. Porém, se ficasse ali, por muito, perderia muito do seu tempo, coisa das mais preciosas. Trataria de ir-se embora, tomar sorvete em bolas grandes de pular arco-íris. Ele que se afligisse com sua nuvem negra e bebesse a própria peçonha.

Ela iria balançar na rede vendo os verdes pastos e as árvores num dia azul. Faria companhia a quem chegasse.

Janela da alma... E sombra.

Janela da alma... E sombra.

Quem?

O que disse Richard Pekny