Designer by Luiz Cotta

Alice e sua Sombra

Alice não é Ágata.
Alice não é Renata, Débora, Aline, Ana e muito menos Carolina.
Alice não é bailarina, professora de forró, santa ou indulgente.
Alice é só Alice mesmo. E mais nada.
Por enquanto...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Alice e (Sua Sombra) esquisita

Alice conheci bem aquela sensação. Lembrava-se da época de escola. Bastava o ônibus parar na porta que já vinha a sensação de enjôo, tontura, mal estar e um vômito que nunca conseguia sair. Era ali, naquele lugar, que era a estranha do ninho, a desajustada, que escutava Bethoven e não axé, que lia Sartre ao invés das crônicas obrigatórias de Veríssimo.

Era ali que pintava as unhas de vermelho, o cabelo de laranja e usava saias cumpridas e coloridas de sua avó e óculos escuros. Era ali que passava os intervalos no laboratório de informática rm salas de bate papo por não ter ninguém com quem conversar. Era ali que era a melhor aluna da classe, que sentava-se quieta na última carteira da escola e foi ali que lhe inventaram o apelido de "Sombra Esquisita".
Seu primeiro grau fora um caso a parte. Uma disparidade. Uma obrigação imposta pelos pais e, mais ainda, pela sociedade. Ela queria estudar numa escola pública à noite, aprender japonês e fazer intercâmbio na Jamaica. Era mesmo uma desajustada.

Naquela época já começava a escrever seus poemas e se interessar por rapazes. Um em especial. Quinze anos mais velho. Dois anos intensos e escondidos. Enquanto isso ela se adaptava à rotina de aula, natação, inglês, piano, tênis e jogar cartas com seus avôs. Este último era, de fato um prazer que a livrava do terror que era sobreviver àquela crueldade do mundo.
E agora reconhecia bem a sensação da língua grudada na garganta, do vômito entalado, da zonzeira e da vontade de fugir. Isso acontecia a algum tempo. Bastava chegar na porta do escritório. Bambeava as pernas, mas entrava e ligava o computador que a prendia numa sala sufocante com cheiro de mofo e cigarro por oito horas. Todos os dias.
Alice odiava não conseguir vomitar. Talvez aliviasse seu corpo e sua alma.
Mas desde aquele tempo e até hoje lembrava-se de cor e salteado o que lhe dissera, quase que pessoalmente, Fernando Pessoa:
"Minha Loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura o que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?"

4 comentários:

  1. Dramaticidade pura! rsrs. Bjus.

    http://so-pensando.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Falei no 1º comentário feito aqui, que iri fazer um texto com base em seus textos, não é isso? Pois bem, aqui está:

    http://so-pensando.blogspot.com/2009/02/cenas-de-alice.html

    Dá uma lida lá e me diz o que achou. Bjus e bom final de semana.

    ResponderExcluir
  3. Adorei seu blog...

    Muito intenso e original.

    São verdades escritas e ponto.

    Virei outras vezes...

    Bjo

    ResponderExcluir

Quem falou aí?

Janela da alma... E sombra.

Janela da alma... E sombra.

Quem?

O que disse Richard Pekny