Se for pra começar tudo de novo...
domingo, 30 de agosto de 2009
Alice: porque se for pra começar tudo de novo...


quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Alice e coração tal-qual
é quando dói, encolhe e pinga
é quando sai vermelho enxurando tudo
é que por tédio ou por amor...


quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Alice e a escuridão
Eu queria é que você ficasse comigo ontem. Que não me deixasse sozinha no negro da noite sem luz. Queria mesmo que você se importasse com a minha solidão, meu medo do escuro e me ajudasse a cuidar de cada canto da minha casa vazia.
Queria que você trouxesse mais velas, talvez um vinho. Ontem eu queria ficar deitada na rede com você vendo as estrelas ou assistindo um filme patético qualquer, à luz de velas, muitas velas.
Queria que você me cuidasse mais e me atendesse prontamente e que nenhum jogo de futebol fosse um "daqui a pouco te ligo".
Queria que você me ajudasse a cuidar da minha gata que estava aflita, achasse meus incensos e me abraçasse forte com a força que tem que me encaixa sempre tão bem.
Ontem eu queria que você fosse a luz que me faltou, o quente do meu cobertor e o chamego de "está tudo bem, meu amor".
Ontem queria dançar pra você. E te deixar admirando o reflexo do meu cabelo sob a luz das velas vermelhas que coloquei na sala. E dançaria de vestido, como você gosta, bem devagar só pra você admirar. Rodopiaria na ponta dos pés e pararia bem de frente pra você e...
Ontem eu queria que você fosse meu fogo, minha cama, meu cheiro, minha falta. E ficaríamos nós três, você, eu e a gata Penélope nos aconchegando até que o sol raiasse.
Mas você não foi. Não entendeu que meu "não precisa" era uma súplica. Que minha voz truncada era um querer demais te ver como surpresa pelo olho mágico da porta. Não percebeu que te queria inteiro e completo comigo. Não percebeu que tinha que me adivinhar.
Mas isso é só mais uma pirraça minha. Só mais uma exigência egoísta, só uma de me achar um sol e que você só pode ter olhos cegos pra ele. Puro ego, birra e solidão.
Depois que descobri que meu "não" foi mesmo um "não" pra você, que nada iria acontecer... Penélope e eu nos enroscamos debaixo do cobertor, sopramos as velas e dormimos. Afagadas pelas mãos macias da minha sombra que me acompanha mesmo na escuridão total e absoluta dos meus sonos.
Não se preocupe com culpa. Com ela lido eu. Ela vem sempre me cobrar pelos meus caprichos. Sei bem como é. Agora que não pode mais fazer nada, deixa que com a culpa e o castigo eu me viro.


segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Alice e seu coração involuntário
Já falou muita besteira sobre isso de onde se concentram as coisas, lóbulo direito, mente, alma, cabeça... espírito, físico, pele, cheiro. Já falou demais. Já foi de arrogante a língua de dizer sem pensar e pensar e ainda assim dizer, gritar, mentir...
Para muito da sua estranheza, então, ela começava a sentir alguma coisa bem diferente. Lá naquele cantinho, no órgão muscular oco que se localiza no meio do peito e ligeiramente deslocado para a esquerda, que chamam carinhosamente de coração.
Estranho não era sentir algo ali. Isso ela já tinha visto sangrar. O estranho mesmo era a ambigüidade do que se passava por ali, onde pulsam pensamentos, às vezes sentimentos. O coração dela estava pensando de maneiras diferentes. Sem a permissão dela, ele desatinou. E deu-se a pensar prum lado e pro outro. Num balangobango de vai e volta, ora vai, ora volta. Ora fica, ora esfria. Ficava quente e vermelho (a), suava frio, sentia pressa, vergonha. Ou NADA. O NADA passaria despercebido não fossem as oscilações.
Era como um bicho despertado depois de longas décadas de hibernação. Olhava para todos os lados, direita, esquerda, diagonal, cima, baixo, metade pra lá, aqui, umbigo. Aí, no umbigo, era onde desacelerava a palavra e parava. Calmaria. Hum... Tranqüilo...
Logo depois já desandava e vinha um caso, “não caso”, amo, chato!, sonho, sexo, música, memória, novidade, descontrole, perna bamba, “caso”, “de jeito nenhum”, hoje sim, amanhã não.
Que coisa essa de não se definir! Haveria de ser absolutamente um milhão de vezes mais fácil de administrar se uma coisa só fosse. Se não fosse tão pluripersonal, se não se dividisse em escalas, dependendo do degrau da escada, saltitando entre cada pedacinho do que se tem de liga. Liga do coração ao umbigo.
O coração dela estava indócil, feroz, malicioso e queria tudo ora no mesmo cantinho do buraco do lado da parede, ora cada qual em seu lugar que não se sabe onde. E, como de costume, às vezes queria somente NADA.
Coração bobo!
Sai aí lascando os outros, deixando seu xis colorido de lápis vermelho, marcando zorro nos outros, pulando de galho, voltando à estaca, trocando de cena, fazendo-se de tolo. Pacóvia de si mesmo, destes movimentos irregulares, desta descentralização de ordens e subordinados.
Porque o coração, sabe-se, assim como a sua língua, é uma das coisas do seu corpo que se mexe sozinha, sem nenhum respeito ao que ela lhe dizia.


Janela da alma... E sombra.
