Já falou muita besteira sobre isso de onde se concentram as coisas, lóbulo direito, mente, alma, cabeça... espírito, físico, pele, cheiro. Já falou demais. Já foi de arrogante a língua de dizer sem pensar e pensar e ainda assim dizer, gritar, mentir...
Para muito da sua estranheza, então, ela começava a sentir alguma coisa bem diferente. Lá naquele cantinho, no órgão muscular oco que se localiza no meio do peito e ligeiramente deslocado para a esquerda, que chamam carinhosamente de coração.
Estranho não era sentir algo ali. Isso ela já tinha visto sangrar. O estranho mesmo era a ambigüidade do que se passava por ali, onde pulsam pensamentos, às vezes sentimentos. O coração dela estava pensando de maneiras diferentes. Sem a permissão dela, ele desatinou. E deu-se a pensar prum lado e pro outro. Num balangobango de vai e volta, ora vai, ora volta. Ora fica, ora esfria. Ficava quente e vermelho (a), suava frio, sentia pressa, vergonha. Ou NADA. O NADA passaria despercebido não fossem as oscilações.
Era como um bicho despertado depois de longas décadas de hibernação. Olhava para todos os lados, direita, esquerda, diagonal, cima, baixo, metade pra lá, aqui, umbigo. Aí, no umbigo, era onde desacelerava a palavra e parava. Calmaria. Hum... Tranqüilo...
Logo depois já desandava e vinha um caso, “não caso”, amo, chato!, sonho, sexo, música, memória, novidade, descontrole, perna bamba, “caso”, “de jeito nenhum”, hoje sim, amanhã não.
Que coisa essa de não se definir! Haveria de ser absolutamente um milhão de vezes mais fácil de administrar se uma coisa só fosse. Se não fosse tão pluripersonal, se não se dividisse em escalas, dependendo do degrau da escada, saltitando entre cada pedacinho do que se tem de liga. Liga do coração ao umbigo.
O coração dela estava indócil, feroz, malicioso e queria tudo ora no mesmo cantinho do buraco do lado da parede, ora cada qual em seu lugar que não se sabe onde. E, como de costume, às vezes queria somente NADA.
Coração bobo!
Sai aí lascando os outros, deixando seu xis colorido de lápis vermelho, marcando zorro nos outros, pulando de galho, voltando à estaca, trocando de cena, fazendo-se de tolo. Pacóvia de si mesmo, destes movimentos irregulares, desta descentralização de ordens e subordinados.
Porque o coração, sabe-se, assim como a sua língua, é uma das coisas do seu corpo que se mexe sozinha, sem nenhum respeito ao que ela lhe dizia.
Te compreendo Alice... totalmente te compreendo
ResponderExcluirDemais querol. língua e coração. PQP!
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