Designer by Luiz Cotta

Alice e sua Sombra

Alice não é Ágata.
Alice não é Renata, Débora, Aline, Ana e muito menos Carolina.
Alice não é bailarina, professora de forró, santa ou indulgente.
Alice é só Alice mesmo. E mais nada.
Por enquanto...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Alice fora da caixa

Abriu um pedacinho do buraquinho que deixava o papelão furado. Olhou pra fora. Viu ali tudo colorido, vibrante, veloz, fresco.

Começou a rasgar mais e mais. E foi perfurando seu canto e deixando a luz entrar. Conseguiu ficar agachada. Rasgou a parte de baixo e sentiu os pés no chão gelado. Se deliciou com aquilo e, por um tempo, quis ficar ali, sentindo o sangue que corria nas veias encontrarem a pele gelada. Mas não bastava. Já tinha ouvido falar que o que ela queria ainda não tinha nome. Era mais que liberdade.

Arrancou o teto e saiu.

O sol, o vento... Tudo veio forte nela. E ela admirada. Ficou parada um tempo grande. O suficiente pra dourar a pele branca de enclausuramento. Abria e fechava os braços. Sentiu o ventinho frio passar por cada buraquinho dos poros do corpo. Sentiu cheiros. Muitos cheiros. Soltou os cabelos presos no rabo de cavalo. Abriu a boca.

Abriu a boca e gritou muito alto que não, não queria morar para sempre numa caixa!

Foi quando abriu a porta o carro e saiu sem dizer nada. Não sentia raiva. Não sentia nada de ruim. Só abriu e saiu andando.

Começou a sentir o corpo todo estalar, os músculos beliscarem sua dor de ficar fechada, estática. Espreguiçou. Como era bom espreguiçar. Alongou. Pulou. E começou a correr.

Não disse nada. Só foi. Precisava de um tempo pra curtir seu espaço. E antes não tinha mais uma coisa só sua. Então disse que precisava de asas. Pediu para que lhe desse abertura, para que passasse sozinha, curtindo cada flor que via, cada criança na rua, cada coisa colorida...

Correu como se não tivesse pra onde ir. Correu balançando os braços, chutando o ar com os pés, cantando suas músicas preferidas. Estava liberta. Agradecia por estar fora de uma caixa, por poder cair, trupicar, levantar e andar e depois correr. A vida não pararia pra passar merthiolate nos pés. Viveria com bolhas. Cada uma era um grande passo. Ou um passo em falso, não importava. Mas era andar.

Não disse que era o fim. Aliás, não disse nada. Se falava de liberdade, que todos tivessem, também, liberdade pra abrir a porta e sair também, ou que ficassem lá dentro enquanto achassem por bem assim.

E que assim fosse. Ela não tinha amarras, algemas e continuaria correndo, acompanhada, sozinha. Mas correria, pararia, sentaria num banquinho branco de uma praça e olharia para o passado de trás e pensaria no passado da frente. E, se não soubesse, por um instante, pra onde ir, iria pra qualquer lugar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem falou aí?

Janela da alma... E sombra.

Janela da alma... E sombra.

Quem?

O que disse Richard Pekny