Ele disse, num tom de desleixo: “Há muita interferência externas a nós naquilo que tentamos fazer ‘bem feito’”.
Mas era um vazio profundo que tinha dentro do buraco do corpo dela. Era uma coisa que não tinha mais jeito. Era grande esse buraco, era dolorido, era vermelho.
Ela sentia uma espécie de angustia que alguns diriam: “menina, você tem que cuidar disso”, mas que não passava. Aumentava a cada dia e a cada vez que ela tentava desafiar esse monstro desacordado. Porque era um monstro que arrastava correntes se acordado.
Sentia-se menina indefesa e ele não estava aí para ajuda-la a espantar o bicho papão. O bicho a importunava e ele não a abraçava pra estancar o medo e controlar a dor do barulho das correntes se arrastando.
Esse “monstro buraco vermelho” era bravo, falava alto e a fazia chorar. Ela só queria ser mais forte que ele, mas era fraca e boba e temia tanto que não levantava a voz e nem a cabeça.
Quando ele não estava por perto... Ela se bastava quando ele dormia. Era cheia de pompas, cheia dela, cheia de Alice, impetuosa e decidida. Mas ele, o que não lhe dava atenção nem carinho, a fazia se sentir um nadinha, uma coisinha inútil.
Ao mesmo tempo em que ela queria viver sem o buraco, ele tratava de crescer mais e se fazer presente como uma dor aguda no estomago. Ele estava nela, era dela, fazia parte do que ela era, o buraco. Ela queria vomitar o monstro e andar pra frente.
E ele disse: “Há muita interferência externas a nós naquilo que tentamos fazer ‘bem feito’”.
Ela sorriu e deixou cair uma lágrima.
Ilustração de Urso Torres (https://m.facebook.com/urso.torres?id=100000250585339&refsrc=https%3A%2F%2Fpt-br.facebook.com%2Furso.torres&_rdr)
Muito medo desse monstro que arrasta correntes desperta e tomar corpo, voz e gosto em Alice... Bom te ler de novo.
ResponderExcluirDaniel.